quinta-feira, 10 de julho de 2008

Apagão


Toda a noite a mesma coisa,pegar o suco de laranja,o sanduiche de pão com mortadela,calçar os chinelos e sentar na mesinha em frente a janela principal do apartamento,era la que ficava o item mais caro do pequeno apartamento,o computador.Por mais estranho que parecesse,ele não o considerava apenas uma máquina,era mais do que isso,era seu melhor amigo,era com ele que podia contar nas noites intermináveis de insônia,era nele que se transformava em qualquer pessoa nas salas de bate papo,podia ser Renato,médico famoso da capital ou André surfista carioca ou até mesmo Luciano lutador de jiu jitsu,tudo dependia do seu humor ou das preferências da moça que estava do outro lado da telinha.Toda noite a mesma coisa,não via a hora de chegar em casa para começar seu ritual diário,mas aquela foi diferente.O computador ligara normalmente,os fios estavam todos em ordem,a conta telefônica tinha sido paga,epa,será que ele tinha esquecido??não,não poderia ser,isso nunca tinha acontecido antes,apesar que nas ultimas semana sua cabeça estava meio fora de sintonia,ainda não esquecera o tom de seu chefe brincando seriamente de ser Roberto Justus:
-Esta demitido!!!
Porque???até hoje não entendia,sempre fora um bom funcionário,chegava sempre mais cedo do que os outros,era o último a sair,sempre se oferecia para fazer as horas extras,o seu único defeito era ficar alguns minutinhos por dia no horário comercial falando no bate papo,mas isso o chefe nunca vira,a menos que colega de trabalho,sua vizinha de mesa ,tenha contado,bem isso não seria surpresa,vindo dela ,alias ,nada era surpresa.Estava desempregado mais uma vez,mas até que não seria de todo mal,agora sobraria mais tempo para ficar em frente ao computador,com as economias da rescisão poderia sobreviver por um tempo e ainda sobraria algum para comprar uma máquina mais potente.
Mas agora essa,a internet não funcionava.Desespero.Tudo o que tinha de melhor o estava abandonando,primeiro o emprego e agora seu melhor amigo não dava sinal de vida,deveria ser praga de alguém,não era possível.Depois de tentar se conectar de todas as formas,se lembrou de ligar para a Telefônica.Ocupado,tentou mais uma vez,ocupado,mais mil vezes,sempre ocupado.O mundo estava contra ele.Começou a chorar,tinha certeza que se ele não entrasse na internet naquele dia ,seria substituído por outros Renatos,Andrés ou Lucianos,não sobraria mais espaço para ele naquele mundo virtual.Tinha certeza que agora sua vida perdera a graça de vez,resolveu sair ,tentar uma lan house,talvez la houvesse vida virtual.Pegou o onibus e sentou ao lado de uma moça,no começo nem reparou,mas depois mesmo sem querer,começou a perceber sua conversa no celular,ela estava falando do mesmos problemas que os dele,sua internet não funcionava,toda São Paulo tinha tido um apagão ,dizia ela,coincidência,existiam pessoas iguais a ele,que pensavam como ele,agora so tinha que ter coragem e começar puxar papo,no começo foi difícil,depois de um oi tímido,o papo fluiu,afinal tinham tantas coisas em comum,em poucos minutos foi como se já conhecem a horas,almas gêmeas mesmo.Marcaram um encontro para o dia seguinte,encontro real a bem dizer.Em 1 semana já estavam namorando.O computador?Esse foi vendido para um primo distante,ele descobriu que amores reais eram bem melhores que virtuais.

Alex Penedo

Um comentário:

Diógenes Daniel disse...

Divertido, tema atual... muito bom o conto! Legal seu blog!