quarta-feira, 30 de julho de 2008

Herói

Eu era ainda muito pequeno quando comecei ter a noção do mundo.Me lembro de ver aquele ser enorme(pelo menos para meu tamanho era gigantesco) com uma caixa na mão ,me separando de minha mãe.Estava tão quentinho,sentia a respiração dela e isso me dava segurança,até que ele chegou,sem nada dizer,ou pelo menos eu não entendia suas palavras,sei que me pegou sem muito jeito e me jogou naquela caixa fria de papelão,comecei a chorar,escutava minha mãe urrar de dor pela nossa separação,meus irmãozinhos chorarem também,mas aquela criatura sem coração nem deu bola,bateu a porta da casa e selou meu destino para sempre.Quando acordei estava num lugar estranho,frio,com pessoas que nunca tinha visto antes.Todos me olhavam,mexiam em mim,pelas caras não pareciam ser más,na verdade estavam sorrindo ,falavam várias coisas que eu não compreendia,tudo isso parecia ter durado horas,mas na verdade foram minutos intermináveis,tudo que queria era voltar para minha caminha quente ao lado da minha mãe e dos meus irmãos.Mais tarde veio uma dessas pessoas e enfiou algo na minha boca,depois vim a saber que isso se chamava mamadeira,sei que tinha um gosto estranho,o conteúdo parecia leite,apesar de ser bem diferente do que eu conhecia até então,era até gostoso,quentinho.Estava com fome,acabei bebendo tudo e adormecendo novamente.De repente acordei com uma dor estranha,algo na minha barriga me incomodava,no começo a dor era fraca,mas depois de algum tempo foi aumentando até ficar insuportável.Comecei a urrar de dor,gritava até não poder mais,pensava que ia morrer.Ouvi passos,na minha frente apareceu uma menininha,me olhou com ar de compaixão,me pegou no colo e começou a me fazer massagens,no começo estava desconfiado mas depois deixei me tranquilizar em seu colo,era boa a sensação,aquela quentura me lembrava da minha mãe,fui melhorando,me sentindo confortável na companhia daquele pequeno ser.
Os dias foram passando na velocidade de um foguete,ainda sentia muita falta dos meus,mas fui me acostumando com aquela casa,com aquelas pessoas,no começo estranhas,mas hoje já próximas de mim,não tinha do que reclamar,era tratado como um príncipe.Todas as horas iam brincar comigo,ver como eu estava,no começo me traziam leite,depois com o tempo,era comida sólida e água fresca que vinha.
A vida era boa, mas haviam momentos difíceis também,a primeira vez que vi aquela criatura de branco não imaginei que ele me traria tantos dissabores,mas que as vezes me faria bem também,me tiraria de alguns apertos, como aquela que engoli uma bolinha de gude e ele só com um toque me salvou, mal sabia eu que ele faria parte da minha vida para sempre.Aquele homem de ar dócil,as vezes podia se transformar na pior das criaturas,era o "Cão" em pessoa(com o perdão da palavra),me levava para dentro de uma sala fria,toda azulejada,la dentro havia um outro também de branco,cúmplices talvez,deviam fazer parte de alguma seita,lembro que eu tremia de medo só de -los ,la praticamente me reviravam do avesso,mexiam nas minhas orelhas,olhavam minha língua,meus olhos,até no meu bumbum tocavam,isso quando não me enfiavam agulhas com um liquido dentro,eu tentava me defender como podia,mas não havia jeito,além de serem maiores e mais fortes ,eram em dois,covardes isso sim,mexer com uma criatura tão indefesa como eu,o pior de tudo que aquela menina bondosa que cuidava sempre de mim,nada fazia para me defender,nem se incomodava,deixava eles fazerem o que bem quisessem ,o mundo era muito louco mesmo,eu tinha muito que aprender.
Os anos foram passando,fui crescendo e entendendo algumas coisas,uma delas que nunca seria livre o bastante para ir aonde quisesse,teria minhas compensações,seria sempre protegido,nada me faltaria e ainda teria sempre a confiança dos meus,os protegeria sempre,afinal agora eu era o "homem" da casa e faria jus a isso,se precisasse daria minha vida por eles.
Numa de minhas inúmeras idas naquele homem de branco,enquanto aguardávamos nossa vez de entrar,estava escondido atrás das pernas de minha pequena amiga,quando escutei algo que me chamou atenção,algo que parecia brincadeira mas era real,um garoto havia mordido um cão ,isso mesmo, eu não havia entendido errado,o inimaginável acontecera,meu Deus,o mundo estava perdido mesmo,não existia lugar mais seguro daqui para frente, eu teria que estar atento a tudo e a todos.Chegara minha vez de entrar naquela sala,entrei e la estavam mais uma vez os malfeitores,em um deles pude notar algo que não percebera nas outras vezes que la estivera,estava escrito em uma plaquinha em seu jaleco a palavra veterinário,então o nome dele era esse,desse vez ia se vingar desse homem com nome estranho,assim que o pegasse no colo,ia morde-lo tão forte que ele não iria esquecer.Quando me preparava para consumar o fato eis que me lembrei daquela noticia,era melhor não brincar,os humanos estavam ficando muito perigosos.Preferi ficar quieto e aguentar a dor.Era melhor um covarde vivo do que um herói morto !

Alex Penedo

Um comentário:

Ana f disse...

aaah, gostei dos contos! tudo seu? :D